Nos últimos dois anos, todos os indicadores macroeconômicos foram contaminados pelos efeitos deletérios da
pandemia da covid-19. Mas, diferentemente de outros setores da economia, o agronegócio brasileiro registrou forte crescimento, acumulando alta quase 38% em termos de renda nos últimos dois anos (dados do Cepea/CNA).
O principal motor da expansão do agronegócio brasileiro é o segmento exportador de commodities agropecuárias e alimentares, que em 2021 cresceu quase 30% em valor de embarques na comparação com o mesmo período do ano anterior, atingindo o recorde de US$ 120,8 bilhões.Isso contribuiu para manter positivo o
saldo da balança comercial brasileira (US$ 61,2 bilhões em 2021), já que nos demais setores da economia o Brasil apresentou déficit de US$ 43,8 bilhões, segundo dados do Mapa e da Secex.
Esse resultado positivo se deve ao alto patamar alcançado pelos preços internacionais (em dólares) pagos pelas principais
commodities exportadas pelo Brasil, visto que
houve redução no volume embarcado em relação ao ano anterior (queda de aproximadamente 8%).
No entanto, se por um lado esse resultado tem ajudado a minimizar os efeitos da crise gerada pela pandemia na economia brasileira, por outro tem causado preocupação para a sociedade em função de uma
alta expressiva nos preços dos alimentos, influenciada também pela desvalorização do real no período. Essa preocupação ganha contornos ainda mais graves com a
guerra na Ucrânia.
O fato é que a
população brasileira vem sentindo o aumento da inflação desde a eclosão da pandemia, sobretudo as famílias mais pobres, que gastam uma parte significativa de sua renda com alimentação.
Vale destacar alguns fatores conjunturais observados nos últimos dois anos:
As exportações do setor foram altamente incentivadas pela desvalorização do real frente ao dólar, intensificada pelo influxo de capitais decorrente da elevação dos riscos desde o início da
pandemia;
Demanda interna impulsionada pelo auxílio emergencial, e maior dispêndio com alimentação dentro do lar em consequência da pandemia;
Demanda externa firme, impulsionada pelos países asiáticos que tiveram instabilidades importantes nas cadeias de suprimentos, com destaque para a China;
Quebras de safra observadas em importantes produtos, como milho, soja, café, carne bovina e cana-de-açúcar, em decorrência de secas e geadas subsequentes.